O jornal Estadão fez semana passada uma reportagem muito interessante abordando a qualidade da acessibilidade nos 10 museus mais visitados da capital, mantidos pelo Estado. A matéria contou ainda com a participação da Ong Transformar, que fazia uma visita ao Museu Afro Brasil e apareceu em algumas fotografias como exemplo de interatividade de pessoas com deficiência múltipla com o conteúdo exposto.
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Visitantes da ONG Transformar montaram colares no Museu Afro Brasil com materiais que lembram os que eram utilizados pelos negros durante o império. Foto: Breno Pires - Estadão |
A reportagem mostrou que, apesar de todos os museus visitados possuírem rampas ou elevadores de acesso e banheiros adaptados para cadeirantes, a acessibilidade na maior parte deles se restringe apenas a estrutura física. Ainda falta desenvolver metodologias de acesso aos conteúdos expostos, com recursos adaptados para que as pessoas com deficiência que possam compreender e interagir com as obras presentes dentro destes espaços.
Atualmente, a Pinacoteca, o Museu do Futebol e o Museu da Casa Brasileira são os mais completos de São Paulo em termos de acessibilidade: possuem um conjunto de materiais complementares para auxiliar pessoas com deficiências intelectuais, visuais, auditivas e físicas na compreensão das obras de arte exibidas. Os demais espaços ainda não possuem ações e recursos de acessibilidade além das adaptações na estrutura física. São eles o Catavento Cultural, o Museu da Língua Portuguesa, o Museu de Arte Sacra, o Museu Afro Brasil, o Museu da Imagem e do Som, o Memorial da Resistência e a Casa das Rosas.
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No Museu Afro Brasil, educador Claudio Rubiño conversa com visitantes da ONG Transformar, que cuida de pessoas com múltiplas deficiências. Foto: Breno Pires - Estadão |
INTERAÇÃO ATRAVÉS DO TATO: o recurso mais utilizado pelos museus é a interação através do tato com obras originais, maquetes arquitetônicas, miniaturas e réplicas dos objetos em exposição. Esses materiais são utilizados por portadores de deficiências intelectuais, visuais e auditivas em visitas guiadas. No Museu Afro Brasil, os visitantes podem manipular esculturas e máscaras africanas, instrumentos musicais, maquetes tridimensionais com legendas em tinta e Braille, reproduções de obras de arte e jogos educativos. Já no no Museu da Casa Brasileira, os portadores de deficiência visual recebem luvas plásticas para tocar nos móveis originais em exposição. Apenas a Casa das Rosas, o Museu da Língua Portuguesa e o Museu da Imagem e do Som não oferecem essa possibilidade aos visitantes.
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Pinacoteca: videoguia, aparelho de videodescrição em que uma pessoa se comunica através da Língua Brasileira de Sinais (Libras) (Foto: Breno Pires - Estadão) |
DEFICIÊNCIA AUDITIVA: Apenas na Pinacoteca os deficientes auditivos contam com o recurso de videoguia explicativo. Mas é possível fazer visitas guiadas com um educador habilitado em LIBRAS em sete dos dez museus, com agendamento prévio. O acompanhamento não é oferecido no Catavento Cultural, na Casa das Rosas e no Museu da Casa Brasileira.
DEFICIÊNCIA VISUAL: Na Pinacoteca, no Museu do Futebol e no Museu da Casa Brasileira são oferecidos conteúdos em Braille. Piso tátil e audioguias para auxiliar pessoas com deficiência visual são encontrados na Pinacoteca e no Museu do Futebol.
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Museu do Futebol: objetos ajudam deficientes visuais e intelectuais na melhor compreensão do conteúdo. Na foto, destaque para um boneco reproduzindo uma bicicleta. (Foto: Breno Pires - Estadão) |
ACESSIBILIDADE FÍSICA: Todos os museus visitados pela reportagem possuem rampas e elevadores de acesso, mas em alguns a acessibilidade ainda não é completa. No Catavento Cultural, algumas seções só podem ser acessadas por escadas; na entrada da Casa das Rosas, há um lance de cinco degraus, sem rampa; e no Museu Afro Brasil algumas instalações não dispõem de elevador, mas contam com acesso por rampas.
MELHORIAS: as secretarias de Estado da Cultura e dos Direitos da Pessoa com Deficiência anunciaram a criação de um fundo de R$ 2 milhões para viabilizar a implantação de recursos de acessibilidade em produtos culturais diversos, durante o I Seminário sobre Cultura e Acessibilidade, na Oficina Oswald de Andrade, no Bom Retiro, na última quarta-feira, 24/04. "Muitas vitórias já foram conseguidas, mas tem uma imensidão de melhorias a serem feitas. Nossa expectativa é que os recursos possam atingir aqueles museus que ainda não desenvolvam as atividades, para que possam tomar consciência da necessidade de implantação e criar esses processos de acessibilidade comunicacional plena", afirmou o secretário de Estado da Cultura, Marcelo Araújo.
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Pinacoteca permite atividade lúdica com réplicas táteis de quadros expostos (Foto: Breno Pires - Estadão) |
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