Nesta sexta-feira é comemorado o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Física. A data tem o objetivo de conscientizar a população a respeito dos direitos daqueles que sofrem com limitações, e que ainda não têm tantos motivos para comemoração. É o que relata João Carlos Faria da Rocha, de 54 anos, que usa cadeira de rodas desde os 18, quando sofreu um acidente enquanto soltava pipa e perdeu o movimento nas pernas. Ele avalia que a maior dificuldade para os cadeirantes ainda é o transporte.
"Tenho que pensar no caminho mais acessível que vou fazer depois de sair de casa até chegar ao ponto, além de ter que torcer para o ônibus ter o elevador e o motorista saber usá-lo", disse João, que também critica a existência de apenas um lugar destinado aos cadeirantes nos coletivos. "Isso é limitante, representa a forma como a sociedade encara a deficiência", afirmou. "Se eu estiver com algum amigo cadeirante, vamos ter que tirar no par ou ímpar quem vai no ônibus", brincou.
Para ele, a falta de deficientes nos coletivos é motivada justamente pela falta de estrutura nos veículos.
Nesse quesito, o metrô pode ser considerado o melhor meio de transporte. "Pelo menos tenho a certeza de que vou conseguir entrar no vagão."
Formado em Ciências Sociais, João optou por se mudar para perto do trabalho. O sociólogo faz parte do Instituto Brasileiro de Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), onde desenvolve relatórios sobre acessibilidade no Rio de Janeiro. Ele aponta que a preocupação com os direitos do deficiente vem aumentando, mas que muitos lugares sequer contam com rampas próximas da faixa de pedestres. "Existem rampas que de tão inclinadas são como paredes. Tenho que dar um embalo maior, com mais velocidade, para subir. Ou então ela me joga para trás."
João tem dificuldades por falta de estrutura na cidade. Foto: Arquivo PessoalNas ruas, falta estrutura nos prédios e estabelecimentos. Os degraus formam para os cadeirantes verdadeiras barreiras, agravadas pelo preconceito. "Em muitas lojas, acabo ficando do lado de fora. Quando pago e o atendente traz o troco, as pessoas encaram como se eu fosse um pedinte na rua. Essa imagem já é uma construção social", destacou.
Para evitar apertos, literalmente, João conta que tem que se planejar antes de escolher algum restaurante ou local para ir. "Procuro ligar antes para saber se o lugar tem banheiro adaptado. Já cheguei levar uma garrafinha para emergência", contou. "Não podemos ter vergonha, senão não usufruímos da cidade", disse o sociólogo.
João acredita que maior preocupação dos governos com acessibilidade é fundamental para a inclusão das pessoas com deficiência, não só física, mas também visual, com sinais de trânsito sonoros e um espaço urbano melhor planejado.
"Acessibilidade é ter autonomia. É dar condições à pessoa para ir do ponto onde ela está até o destino final. É dar as condições para ela circular na cidade como se fosse natural", resumiu. |